Será que o “grátis” do Google e do Facebook é mesmo gratuito?

#BigTech #EconomiaDigital #DadosPessoais
28 de setembro de 2025
Já paraste para pensar como é possível passares horas no Facebook, pesquisares tudo no Google, enviares mensagens pelo WhatsApp ou veres vídeos no YouTube — sem nunca receberes uma fatura? À primeira vista, parece um presente da era digital. Mas será mesmo gratuito?
Fundador do KumbuFacil.com e Criador da plataforma AIPEGS.net.
As chamadas Big Tech — Google, Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), Amazon, Apple e Microsoft — estão entre as empresas mais valiosas do planeta. E a verdade é simples: se não pagas em dinheiro, pagas de outra forma.
O segredo do seu sucesso assenta em três pilares: publicidade, dados e ecossistemas digitais.
O poder invisível da publicidade digital
A Google e a Meta são os exemplos mais claros. Oferecem-nos pesquisa, email e redes sociais sem cobrar nada. Mas cada pesquisa que fazemos, cada scroll no feed, é uma oportunidade de nos mostrar um anúncio.
Não é publicidade qualquer: é publicidade segmentada, adaptada aos nossos interesses, quase como se nos lessem a mente. É por isso que, depois de pesquisares “sapatos de corrida”, vês anúncios de ténis em todo o lado.
Este poder tem valor incalculável para os anunciantes. Em 2022, mais de 80% da receita da Google veio de publicidade, especialmente através do motor de busca e do YouTube. O mesmo acontece com a Meta, que vive quase inteiramente das campanhas direcionadas.
Os dados como nova matéria-prima
Para conseguir tal eficácia, as Big Tech precisam de conhecer profundamente os seus utilizadores. É aqui que entram os dados pessoais. Não é por acaso que se costuma dizer: quando o serviço é gratuito, o produto és tu.
Cada clique, cada “gosto”, cada vídeo que vês acrescenta uma peça ao puzzle sobre quem és, o que gostas e como te comportas. Processados por algoritmos de inteligência artificial, esses dados permitem criar perfis extremamente detalhados.
Não vendem diretamente os teus dados. O que fazem é ainda mais lucrativo: usam-nos para valorizar cada espaço publicitário, mostrando o anúncio certo, à pessoa certa, no momento exato.
Ecossistemas que te prendem
Outras Big Tech apostaram em ecossistemas completos. A Apple, por exemplo, junta hardware (iPhone, iPad, Mac), software (iOS, App Store) e serviços pagos (Apple Music, iCloud).
A Microsoft dá-te ferramentas acessíveis ou gratuitas, mas a sua maior fatia de lucro vem de licenças empresariais e da cloud Azure.
A Amazon começa com o marketplace, mas é o AWS — os serviços na nuvem — que gera grande parte dos seus lucros.
Nestes casos, o “serviço gratuito” é apenas a porta de entrada. Uma vez dentro do ecossistema, é quase inevitável começares a pagar — seja numa subscrição, numa compra de hardware ou num serviço adicional.
A troca silenciosa
Ao usarmos os serviços gratuitos das Big Tech, participamos numa troca silenciosa: recebemos conveniência e utilidade, mas em contrapartida cedemos a nossa atenção e os nossos dados pessoais. Essa informação, transformada em valor, é o que alimenta o negócio da publicidade digital. Surge então a questão inevitável: estaremos verdadeiramente conscientes do preço da nossa privacidade e da dependência tecnológica em troca da comodidade de ter tudo “gratuito” à distância de um clique?
No fundo, as Big Tech redefiniram o que significa “grátis”. Se não pagamos em dinheiro, pagamos com tempo, dados pessoais e atenção. É esse mecanismo que as mantém no topo do ranking mundial em valor de mercado. E é por isso que importa refletir: seremos apenas utilizadores satisfeitos… ou já nos tornámos também o produto?
Elso Manuel